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Nada a esconder!?

“Eu, não tenho nada a esconder”, dizemos facilmente, mas será isso suficiente para considerar que deve ser assim para todos?

Posso dissociar-me do resto do mundo e dizer que todos deveriam levar uma vida em que nunca teriam nada a esconder de ninguém?

Teremos o direito de exigir que todos os cidadãos não tenham nada a esconder em circunstância alguma?

De facto, permitir o desenvolvimento de uma sociedade em que nada pode ser verdadeiramente mantido em segredo é impor esta transparência a todos, para sempre e independentemente dos governos que possam suceder-se uns aos outros.

Se forem proibidos sistemas de criptagem fortes, o se continuarmos a utilizar as ferramentas dos gigantes informáticos, então entraremos numa sociedade de vigilância generalizada, que alias já começou. Assim, não só Estados, mas também empresas privadas participarão nesta vigilância. Os gigantes da recolha de informação sobre a nossa vida quotidiana, nao só a recolhem como depois a vendem. Já estão autorizados a fazê-lo, já o fazem de uma forma mais ou menos direta; é um sector muito prometedor.

Ao renunciar à minha privacidade, ao respeito pela minha intimidade digital, renuncio também à privacidade de todos, quer estejam em posições de responsabilidade e poder, quer, pelo contrário, numa posição de fraqueza. Proíbo de facto a todos qualquer "originalidade" e qualquer momento "culpado" de fraqueza que os possa sujeitar a chantagem ou vingança popular.

A obtenção de uma "folha detalhada" sobre qualquer pessoa tornar-se-á "comum".

Uma empresa multinacional ainda poderá chantagear um juiz ou um político da sua escolha, silenciar uma testemunha ou um jornalista.

Uma organização extremista pode eliminar um grupo da sua escolha, visando um a um os "impuros" do momento.

Um departamento de recursos humanos pode achar mais rentável chantagear um executivo perto da reforma ou uma senhora da limpeza em vez de pagar indemnizações...